Bilros – Onde há Redes, há Rendas!
Esta é uma tradição secular em Peniche – “As Rendas de Bilros contribuem para a afirmação das especificidades e diferenciação deste território (…) só a concertação de todos os esforços em torno deste elemento patrimonial comum a todos os Penichenses, poderá contribuir para que esta actividade seja dotada de mais-valias para todos os seus intervenientes e se desenvolva de modo sustentado.
Bilros – Onde há Redes, há Rendas é um dizer que mostra a tradição mas a inovação de produtos é o caminho.” (Jorge Amador, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Peniche in Congresso da Alta Estremadura, 2011) “Peniche, terra de pescadores e rendilheiras que no passado viveram de mãos dadas comigo, Renda de Bilros, dos quais fui o sustento quando o Mar era adverso à fartura do peixe ou a faina parava por causa do defeso (…).
Ainda estou bem viva, embora já em poucas mãos. Mãos de rendilheiras que só por amor não querem separar-se de mim, o que prova que as suas raízes são a sua força.”
Este é o arranque para darmos a conhecer a importância desta arte que Peniche não quer deixar cair. Uma arte feita do esforço de muitas mulheres que viam os seus homens partirem para o mar, embarcando também eles numa aventura quase diária.
Uma história contada através de agulhas…
A Renda de Bilros de Peniche, uma arte com mais de quatro séculos de existência, remonta aos finais do Séc. XVI, inícios do Séc. XVII. O seu aparecimento por terras de Peniche parece ter sido motivado pelas relações comerciais estabelecidas entre os marinheiros e pescadores vindos dos portos de Bruges e Antuérpia, na Flandres, originando a transmissão de um saber-fazer que se transformou no ex-libris do artesanato desta comunidade piscatória.
No século XIX, esta arte era tecida pela maioria das mulheres de Peniche, em especial, pelas mulheres de pescadores que transformavam o engenho da sua arte e a perfeição do seu labor num complemento aos diminutos salários provenientes da pesca, em tempos de defeso.
Com o aparecimento de novas e mais lucrativas alternativas à mão de obra feminina, esta arte sofreu uma regressão, no início do século XX. Atualmente, este elemento distintivo da identidade de Peniche continua salvaguardado, embora com menos expressão que nos tempos áureos em que toda e qualquer renda produzida em Portugal era conhecida por Renda de Peniche.
Como se tece a renda?
A conceção da Renda de Bilros inicia-se no desenho que, após concebido, é copiado para papel milimétrico e picado sobre um cartão feito de modo artesanal pintado habitualmente em cor de açafrão (pique). O pique é fixado na almofada com a ajuda de alfinetes, dando origem à Renda de Bilros que se caracteriza pelo cruzamento contínuo ou intercalado de fios têxteis, enlaçados em bilros. (artefactos de madeira em forma de pêra alongada onde é enrolada a linha ou outros fios têxteis).
Que tipos de renda de Bilros existem?
Existem dois tipos de Renda, a Renda Erudita e a Renda Popular. As suas diferenças assentam no desenho dos padrões. As primeiras possuem desenhos elaborados, com motivos complexos e não repetitivos, o que exige a utilização de pontos muito variados e grande perícia de execução. As segundas possuem um desenho mais elementar, cujo motivo é, por norma, repetitivo, com utilização de pontos mais tradicionais e de execução mais simples. Um dos pormenores que distingue a Renda de Bilros de Peniche de outras rendas de bilros produzidas em Portugal, é o processo de urdidura (as rendilheiras de Peniche trabalham com as palmas das mãos voltadas para cima) e o facto de, nestas Rendas, não se distinguir o direito do avesso.
A renda de Bilros autêntica
Criado (certificado de origem Renda de Bilros) em 1996 com o objetivo de garantir a autenticidade e a qualidade das Rendas de Bilros de Peniche no que respeita às técnicas e ao tipo de materiais utilizados na confeção, esta Certificação local permite o garante da preservação das técnicas ancestrais associadas à arte de tecer a Renda de Peniche.
Qual será o Futuro da renda de Bilros?
A Escola Municipal de Rendas de Bilros está a funcionar em pleno de segunda-feira a sábado e tem dedicado algum tempo do seu funcionamento, não só à iniciação da aprendizagem e aperfeiçoamento das Rendas de Bilros, como também à aprendizagem de técnicas e processos como o desenho e cerzidura. A quarta-feira à noite é dedicada à iniciação das técnicas de Rendas de Bilros por parte de jovens adultos que, durante o dia, não têm disponibilidade para se dirigir à Escola.
A renda de Bilros em forma de Arte e Cultura
Expressão máxima no que respeita à preservação e conservação das rendas de bilros de Peniche, o Museu da Renda de Bilros de Peniche, pretende afirmar-se um museu vivo e sentido pela comunidade e que se assuma como mais um elemento de atratividade do concelho de Peniche.